08 dezembro, 2008

as memórias são um livro




no banco corrido de madeira
estendido no velho soalho do alpendre
está sentada a velha senhora
sorriso tão alvo quanto o branco dos seus cabelos
há cravos e sardinheiras no pedaço de terra sobre o muro
o pátio amplo a cozinha do forno o marmeleiro ao fundo num canto
a porta de saída para o quintal a laranjeira a nespereira
os corrimões de videiras as nogueiras a ameixoeira os pessegueiros
a horta as oliveiras o sol na terra onde se colhia até vida

isso foi há tanto tempo!

agora não há mais a velha senhora o banco corrido de madeira
o alpendre está vazio os cravos e sardinheiras esfumaram-se
a cozinha do forno é uma ruína o marmeleiro já não existe
o pátio amplo coberto de ervas daninhas é um exílio de sombras

isso é uma espécie de presente onde florescem angústias!

antónio paiva

4 comentários:

escarlate.due disse...

O único comentário que consigo deixar-te a este post é um enormeeeeee beijo (tu sabes porquê)

Vanda Paz disse...

as memórias são os retratos tirados com o coração


um abraço sincero

beijo

Um Poema disse...

....

As memórias são sempre livros, infelizmente não escritos, cujos textos, se se não perdessem no silêncio das almas, ou no esquecimento da distância, enriqueceriam a humanidade.

Um abraço

Mário disse...

À procura de um texto dos Trovante aterrei aqui... em boa hora. Excelente poema, e já vi que é um Blogue para investigar e conhecer.
Parabéns ao Autor e... até breve.
Mário Cordeiro