28 fevereiro, 2008

Lançamento do Livro Palavras (O)usadas

Palavras (O)usadas, o mais recente livro de poemas de António Barroso Cruz será apresentado públicamente no Funchal amanhã, 29 de Fevereiro às 18h00 no "foyer" do Teatro Municipal Baltazar Dias. Esta é a segunda incursão do autor, em termos de publicação a solo, na área da poesia, depois do sucesso de vendas que tem sido o livro Intimidades. Palavras (O)usadas é superiormente ilustrado pelo arrojo criativo do artista plástico Marco Fagundes.
António Cruz, é um excelente escritor e poeta, de quem tenho o privilégio de ser amigo.
Deixo aqui um perfume da sua poesia:
HOJE SOMENTE

Hoje,
somente hoje,
quero inscrever
nos papiros
as nódoas
deste meu prazer doentio
que ficará para
sempre marcado
nos lençóis do tempo.
Promulgações
reais desse
Hórus que trago em mim,
celebrando
a vida com o vinho
envelhecido
nas ânforas sagradas
onde mergulho
os meus sentidos.
Entre a dor
do crepúsculo
e as lágrimas
da alvorada.
  • Compareçam.

13 fevereiro, 2008

Momentos de felicidade





A vida com a Primavera nos olhos.

antónio paiva

03 fevereiro, 2008

Inquietude

Nesta inquietude que me assola, o desejo de partir numa viagem longa, é cada vez mais marcante. Todo aquele mar diante dos meus olhos atrai-me compulsivamente. Todo aquele poder azul fascinante, a minha fixação de que em cada fim há sempre um princípio. A leitura de lugares longínquos, seria uma boa ajuda para o conhecimento do meu espírito e dos recantos mais recônditos da minha pobre alma. A profundeza do mar é algo que comparo ao mais profundo de mim, por desconhecer uma coisa e outra. O mar espelho do céu, companheiros passo a passo, fervilham nuvens e ondas. Tal como em mim, nuvens de dúvidas, ondas de querer. As grutas de que sou feito são iguais a tantas outras no fundo do mar, penso. Mistérios, coisas belas e menos belas, lugares sombrios ou pejados de peixes coloridos, algas e corais. Tantas coisas que eu desconheço. Uma ignorância que me deixa inquieto. Deito-me tantas vezes de corpo e alma em azul, cabeça ao abandono e membros estendidos. Olhar a pique no universo.

São tantas as vezes que o que sinto foge das regras básicas impostas. São tantas as vezes que quero partir já amanhã. Não se trata de uma vontade contra o que me rodeia, contra quem me ama e acarinha. Sou eternamente grato a tudo isso. Amo tudo e todos, embora a maior parte do tempo não seja capaz de o fazer sentir. Dentro de mim de algum modo também me amo, umas vezes amo-me até me castigar, outras castigo-me até me amar.

Nas janelas, varandas, terraços e miradouros de onde observo o mundo, o meu olhar fixa-se sobretudo na luz, uma luz que me invade e me toma conta, que me diz o tempo todo que posso ser melhor, bem melhor. Ah! Inquietude minha, que me agitas e me fazes renovar, renovar o pensamento e os desejos. A verdade é que se quero partir, é apenas porque anseio o regresso a mim. Partida e regresso fazem parte de uma viagem em busca de respostas. Sobre mim, sobre ti, sobre eles, sobre nós, sobre todas as coisas que me fascinam, repito: sobre tantas coisas que desconheço.
Ah! Inquietude minha, que fazes chover tantas vezes dentro de mim, tanto que às vezes me transborda pelos olhos alagando o rosto. A verdade é que depois de chover, o meu rosto vira sol e os meus olhos astros brilhantes, os meus lábios formam um vale sorridente a transbordar de alegria. Volto a olhar o mar, é fim de tarde, quase noite, o poente fica do meu lado direito, o sol vai despejando enormes quantidades de tons alaranjados sobre o mar. À minha frente as Desertas sorriem, o Lobo Marinho regressa de Porto Santo, sulcando o mar laboriosamente, ansioso por atingir o merecido repouso de mais uma noite ancorado na baía do Funchal. Eu sorrio também, recolho-me consciente de que se não parti para uma longa viagem, tive uma longa conversa comigo próprio. Mesmo sabendo que há tanta coisa que eu desconheço e ambiciono conhecer, estou certo de que aprendi mais alguma coisa. Aprendi sobretudo, que muitas vezes até vale a pena eu falar comigo.