21 novembro, 2011

já era para ter dito, mas digo agora

hoje nem as palavras conseguem sossegar-me; a tempestade da alma não se apaga. há um grito que me queima a língua. estou à minha espera para fugir. se conseguir adormecer vou pensar em mim. prometo.

19 novembro, 2011

de novo a dizer-me


poucos foram os dias em que não te amei verdadeiramente – vida. é por isso que quero morrer sem presas – vida. estou a construir uma quilha de barco no meu peito; para contigo navegar eternamente no mar-alto – vida.

15 novembro, 2011

continuo com esta necessidade de dizer


se pinassem menos podíamos comer melhor; assim pensava o filho mais velho de uma família numerosa – todos sentados à mesa entretidos no jogo de pescar pequenos farrapos de couve que nadavam no prato de caldo aguado – a irmã do meio celebra contratos de dez minutos, um quarto de hora ou meia hora para poder ir à pastelaria adocicar a existência. e chove; chove copiosamente, não há lugar onde mais chova que na pobreza. e chove; chove copiosamente, perdoem-me o que por vergonha omito, quer na dureza, quer na linguagem, porque na verdade, entre outras coisas, o que eu queria mesmo escrever, era: se fodessem menos…, era; era tanta coisa, lá isso era…

12 novembro, 2011

era-me necessário dizer

sou uma criança que envelheceu, apesar disso; continuo a ser uma criança, continuo a gostar de amoras, digo-o tantas vezes, que é com alguma mágoa que vos dou conta da tristeza sentida, por nunca terdes dado conta que vos disse o que disse tantas vezes. as pessoas são como os telhados: quando falamos estão sempre lá em cima e sonâmbulas. o que me vale são as outras crianças que me dizem: és um violino sonhando constantemente com um mundo diferente.