31 março, 2009

breve ensaio ao tempo


tempo breve, lento o tempo,
tempo arredio em marcha de caranguejo.
tempo esguio mentiroso e fugidio,
tempo seco barbatana de raia no estio.

e um tempo a embalar a insónia,
à espera que o sono escorra pelos beirais.
tempo de cópula dos ponteiros do relógio,
no cio dos segundos em orgasmo estéril.

o tempo das cigarras em desgarrada,
das corujas em desmesurado pio.
faz-me tanta falta, o tempo
que medeia entre a proa e a ré do navio.

meço o tempo onda a onda,
o tempo breve onde respiro liberto.
num tempo vago e de horizonte aberto,
densa partitura de instantes mínimos.

e tudo se agita num silêncio,
tão breve quanto o meu tempo.
o tempo se esfumou sem eu dar conta,
e a noite desfez o céu ainda há pouco em presença.

29 março, 2009

breve ensaio ao nascimento




algo se inicia sem nome,
na gestação de vocábulos de amor,
metáforas de vida letra a letra,
tomando forma no venturoso ventre.

o ser de fibras moldadas em fogo brando,
abre clareiras de júbilo na carne do mesmo poema.
um corpo ávido de vida embalado pelo silêncio,
um silêncio liso na harmonia de uma alma alva e nua.

pulsa e respira em tão silenciosa frescura.
ah Primavera viva!
unida à terra onde o fruto madura,
e rompe e rasga a prodigiosa ventura,
qual magna lava do vulcão.

e há então um choro primeiro,
não de sofrimento ou de mágoa,
mas sim um rumor vivo ingénuo e livre,
talvez um primeiro pedido – de amor incondicional.

agora os tenros lábios acariciam o seio materno.

22 março, 2009

breve ensaio amoroso


nesta cerimónia de amor herança,
escassos os meus dedos te acendem,
em botão de rosa fêmea perene.

em pose de homília liberta o perfume a violeta,
silhueta caminhando em leveza extrema,
que de tão leve e graciosa libélula não perturba o pólen.

dois pares de olhos, algures o mesmo desejo.

21 março, 2009

A somar primaveras



Quis quem já não está entre nós, em conjugação com o supremo, no trono da Real Natureza, que há umas décadas atrás, num dia 21 de Março, precisamente às 09:30 da manhã, eu desse início à empreitada de uma vida. Construída entre sonhos e escolhos, somando primaveras. Agora, dobrando a esquina da rua do começar a somar invernos, não venho mendigar tréguas. Quem me tem mordido que me continue a morder, pois faz-me falta, quem me estima que me continue a estimar, pois falta me faz, e, quem me ama que me continue a amar, pois sem esse amor sou nada.
Tenho um improviso de intervalos para todos vós, da carne e da alma vos podeis servir, consoante a natureza das vossas fomes. No entanto quero que saibam, por muito que ferrem num ou noutro lado, nunca chegareis aos ossos que eu não deixo, vou levá-los comigo, quando arrumar os meus pertences.
Agora vou simular rimas e poesias, respirar nos versos brancos, escrever prosas de amainar cóleras, contos de florescer memórias, romances de irónico a Cupido. Que a minha morte vem longe, e irei vestido de palavras, quem mo afiançou foi Calíope. Eu, Primavera enquanto dure.

16 março, 2009

in Genéricos 18





De tanto me doer o pensamento acordei com o estrondo dos olhos a caírem dentro de mim. Foi quando o par de óculos se sentaram no nariz situado logo acima do bigode e começaram a ler. Na mesa do lado ela deixou cair o sorriso na chávena de chá que fumegou de desejo. O desejo a fumegar na chávena de chá. Na chávena de chá o desejo. A fumegar. A fumegar. O desejo. O desejo. Fumega em chá dele. A chávena quente.
uma espécie de escritos avulso
para ler sem receituário

11 março, 2009

presunção e água benta



presunção e água benta
da primeira me penitencio amiúde
da segunda tomei por imposição,
de quem achou por bem culpar-me,
do “pecado” da carne que até então,
não cometera quer por indigência,
ou sequer por consciência.

quiçá por culpa do atrevimento
de ousar ter nascido, invadindo
a pureza imaculada das batinas,
conspurcando o branco sagrado,
de saiotes e evangélicos colarinhos.

cresci na dureza que até hoje mordo,
o pagamento por pérfido, da bula carnal,
mastigando a casca de aleivoso e ímpio,
chicoteai-me sacripantas chicoteai-me,
por ousar monstruosas afrontas,
adormecei serenos e castos,
na alva brancura do vosso leito sevandija.

benzo-me, três vezes me benzo antes de ir.

10 março, 2009

o poema da benevolência






a vós que tanto insistis;

– que vos dê o que não sou.

respondo-vos;

– sim, dar-vos-ei o mais que possa – impossível eu.

08 março, 2009

hoje é dia de todos os dias




haja flores nos canteiros.

porque de espinhos há atoleiros.


no Brasil uma mãe e uma menina de nove anos de idade, foram excomungadas por um bispo, pela prática de aborto.

nada de mais, a menina de nove anos só engravidou pelo simples facto de ter sido violada pelo padrasto.

nota:para evitar ataques de mentes tortuosas, esclareço; nada me move contra o povo irmão brasileiro, já que, o sucedido por lá, bem que podia acontecer e/ou acontece em terras lusas ou noutro qualquer canto do planeta.

03 março, 2009

João Videira Santos na Galeria Domínio Público

(clicar nas imagens para ampliar)


O meu estimado amigo,

Autor, poeta e artista plástico JOÃO VIDEIRA SANTOS, apresenta na Galeria Domínio Público de 4 a 24 de Março alguns dos trabalhos feitos em Lisboa e Brasília.

Com uma diversidade de trabalhos apresentados em exposições individuais e colectivas, a presente exposição caracteriza-se por trabalhos a acrílico, vinte e sete em papel Canson e três em tela, tendo por base figuras "incaracterísticas", denominadas por "Monstr'inhos".

Sobre estes trabalhos, a designer industrial ANGELA LADEIRO, da "Dimensão Design", escreveu: " Cada quadro é um apelo aos nossos sentidos, um desafio maior à nossa imaginação. "

Para a inauguração da exposição, a ocorrer no dia 4 de Março, quarta-feira, pelas 18.30 horas, estão convidadas diversas personalidades da vida citadina.

A exposição estará patente ao público de segunda a quinta-feira das 08.00 às 24.00 horas, sexta-feira e sábado das 08.00 ás 24.00 horas.

Encerra ao domingo.

DOMÍNIO PÚBLICO
Rua de Entrecampos, 12-B
LISBOA

Telefone: 210 100 892

João Videira Santos, para além de excelente artista e poeta, é um homem bom, um ser humano que irradia simpatia e gentileza.

Se vos for possível compareçam na inauguração, ou visitem a exposição num dos 20 dias da sua duração.

Abraço.