26 agosto, 2009

anseio

anseio todas as palavras simples,
com a mesma ânsia que encaro o meu rosto.

anseio na escrita de todos os dias,
a memória da memória permeável às diferenças.

todos têm as suas próprias leis,
pedem-me que as entenda,
continuando indiferentes à minha ânsia.

habito sob esta pele,
matéria bárbara e adversa,
na ânsia de não favorecer a desistência.

depois acusam-me da ausência,
como se tudo fosse apenas e só um poema ambíguo.

anseio sobreviver,
a esta fadiga que me impõem, torrente de egoísmo.

a todos devo, mesmo aos desconhecidos,
anseio tanto pagar-lhes para que me deixem em paz.

18 agosto, 2009

pensamento pró fundo

o cão que morde o cão como se fosse o dono.

17 agosto, 2009

por nojo

anti-isto, anti-aquilo, anti-tudo e anti-nada. o rosário escabroso das classes socioprofissionais-político-sociais de banda-larga. alternativa mesmo alternativa nunca houve, o que há é a alternância do costume. e como de alternância se alimenta a clientela. já estão agendadas as paralisações. o que me irrita é que a factura depois é a dividir por todos. e com a franqueza que devo a mim próprio - já me mete nojo!

15 agosto, 2009

!

antes dar pérolas a porcos, que palavras à iliteracia congénita

13 agosto, 2009

avó Maria


´

preciso de voltar a essas casas
pedras e telhados das minhas origens.

avó Maria,
quero de novo os vinte escudos
embrulhados num sorriso na palma da tua mão
no alpendre da tua casa aos domingos à tarde.

que saudade da lisura da tua bondade
poema vivo da minha juventude
o pão fumegante saído do forno
recheado de petingas temperadas de azeite
que as tuas mãos calejadas me ofereciam.

outrora crescia-me a água na boca feliz
hoje as memórias humedecem-me o olhar.

aqueles degraus rasos de pedra
onde saboreava o delicioso manjar
são agora o tempo a latir o silêncio
as intempéries levaram o teu rosto
a nitidez da perda é a matriz do meu longe.

06 agosto, 2009

dedico-te estas palavras





dedico-te estas palavras
com mãos quentes calejadas
dedico-tas por não m’as teres pedido
germinaram dos meus olhos sem teias
são sinceras, rainhas e plebeias

são a travessia branca da minha alma
a metamorfose de mim na palavra toda
um voo oblíquo de matéria ardente
um silêncio habitável por toda a gente
respira este lugar calmo transparente
na invulnerável superfície da página
vive medita e lê como quem sente