30 maio, 2013

respirando

fartas de vergastadas e atavios significantes, andam as palavras.

eu também!

14 maio, 2013

in "Livro Imperfeito" - 2010

 
   Os sons da música de Gheorghe Zamfir adocicam este fim-de-tarde sombrio de um dia plúmbeo. A ferir os meus olhos, só o branco nu desta folha de papel, a desafiar os meus pensamentos, sentados num baloiço para cá e para lá, e eu sentado nesta cadeira a adivinhar o vento lá fora. As minhas mãos desenham as teias do tempo, onde a vida me prende sempre que me debruço no abismo. Ainda há pouco chovia copiosamente, agora amainou. Só esta minha febre é que não baixa e as palavras correm tão devagar neste branco feito de celulose. Ainda pensei em escrever o mais belo poema de amor, mas desisti. Wagner já o dedicara a Isolda, e eu como sempre chego tarde, tarde demais. Invejo a alma de Fernando Pessoa; “em tudo quanto olhei fiquei em parte”, escreveu-o ele. Inteligente e mordaz, José Gomes Ferreira escreveu: “Ah se eu pudesse suicidar-me por seis meses!”. A verdade é que tudo muda, já houveram tempos em que as guerras e os muros eram feitos de pedras. Agora apedrejam-se as palavras e quem as ama, mas não é com pedras, é com insultos.
   Eu, eterno aprendiz da escrita, sobre quem as palavras exercem um fascínio arrebatador, ofereço-lhes sempre a outra face sem qualquer espécie de hesitação. Espero um dia delas obter o perdão e continuar a servi-las a vida inteira. Só elas me favorecem a luminosidade do pensamento na fluência da sua magia despida do óbvio. Quem é testemunha disso é a cadeira onde me sento e as palavras me visitam.
  Não resisto a recordar enquanto sorrio, isto para além de me rir de mim, antes que, quem me ler o faça. Confesso que não gosto de ser o último a ter esse privilégio, ainda que possa parecer um triunfo patético, dele não abdico. Quero lá saber se o apelidam de um simulacro de cinismo. Para me defender, já aprendi a esgueirar-me na pluralidade das sombras. No início era apenas uma simples nuvem a que recorria, que com o tempo fui aperfeiçoando e, hoje estou quase mestre.
   Há quem teime em repetidamente chorar lágrimas de amor sob forma de poesia, como quem morre de fome no vazio de uma caveira, a verdade é que sempre foram os excessos que pariram a fome. Em tempos, os poetas, quando tomados pela esterilidade colocavam uma flor na lapela, amenizando assim o penar no deserto dos versos. Muitos dos de hoje, relegam a poesia à inferioridade de um nariz comprido e, desatam trovejar tempestades vazias, com versos enrodilhados em palavras de amor. O mais importante no seu entender, é vomitar no papel, algo que se assemelhe a versos, ao que eles mesmos, presunçosamente se encarregam de chamar poesia.
   É por esta altura do texto, que me começam de novo a martelar na mente, as sapientes palavras de José Gomes Ferreira; “Queria ter duas bocas: uma para beijar e outra para comer. Assim, com uma apenas, só posso morder”. Não faço ideia, até quando o tronco que me sustenta me acompanhará no nascer e pôr-do-sol, e com ele a seiva das palavras me fará florir os olhos sem fadiga. Até quando a abençoada chuva de sílabas fará verdejar cada linha, até lá, que os meus dedos sequiosos de afagar cada letra, vivam sem repouso. Talvez eu tenha a fortuna de não dar conta de o meu tronco secar, nem sentir a mente carcomida, muito menos de sentir as dores do cerne de mim a apodrecer.

 

   Se assim for, a minha pausa entre memórias será gratificante, soberba.

 

09 maio, 2013

Blogue - Oficinas de Escrita Criativa

Aos amigos, leitores e visitantes, sugiro uma visita a este meu Sítio

Grato.