29 novembro, 2008

Uma mensagem, um poema e um abraço


As duas últimas semanas trouxeram-me do pior e do melhor que a vida nos pode oferecer. A vida é um caminho muitas vezes sinuoso e íngreme. Outras vezes plano e muito gratificante. Do nosso crescimento e aprendizagem ambas as situações fazem parte. Vida.
Por tudo isso tenho andado afastado de todos vós que me visitam e acarinham. Vou tentar o mais breve possível retomar a normalidade.

Deixo-vos algo que trouxe comigo da Escola Secundária de Anadia. Um poema escrito, musicado e cantado de modo brilhante, pelo jovem aluno Luís Martins.

Ser Poeta
Ser poeta é ter o dom
De compor música sem som, é sonhar
Expressar os sentimentos
Expor o que vai na alma, levitar
O meu desejo é ser poeta
Mostrar ao mundo o que sinto…e voar
Ser puro de coração,
Explorar o meu interior…e criar
Inspiração vinda do passado, reflectir sobre o presente
Sentir desejo de ir ao Céu, mostrar como é ser diferente
Com o pensamento e imaginação,
Como a imensidão do mar
Ser transparente como a água,
Invisível como o ar
Escrever poemas é criar ligação,
Entre o imaginário e o seu criador
Este é o verdadeiro poeta,
Que apesar do que sente escreve por amor

Luís Martins

13 novembro, 2008

o tempo corre

detenho-me às vezes
em líricas indecisões
o tempo corre
as folhas amarelecem caindo
as palavras amargam na boca
da viuvez da alma
por não rasgar a frágil teia que separa
o tempo corre
será de novo verão
as searas voltarão a aloirar
a alma afogueada então

a colher vermelhas cerejas carnudas de vida.

antónio paiva

08 novembro, 2008

íntimo rigor

a dor,
concedida ao homem,
pelos deuses.
alimento indispensável,
forjada em presságios,
absorvida pelo corpo.
deposito,
todas as minhas dores,
os meus prazeres,
sedentos,
de uma paisagem como tu,
insofismável refúgio.
ofereço-te,
os meus queixumes,
embrulhados em sussurros.
junto de ti,
enlouqueço,
gemo,
sofro,
embriagado,
entontecido,
abrigo-me dos espíritos da noite.
os meus braços,
são roupas,
vestindo a nudez do teu corpo.

gestos,
gotejantes de carícias.

antónio paiva

07 novembro, 2008

quase falando de mim

sinto esta emoção inebriante
de um tempo quase imóvel
recortado na silhueta das fragas
o céu opressivo e circunvagante
a olhar o mar no fundo das ravinas

por aqui vagueio secreto e tangível
ao sabor desta brisa pacificadora
no derredor desta íntima paz verde
ínfimo silêncio uterino em pequenos pedaços

neste tempo mil vezes resolvido
fico-me à conversa com o descanso
de permeio com a verdade irrecusável do que sinto
cúmplice a acácia centenária
neste meu ir e voltar a sublimar as distâncias
aguardo um regresso em que possa falar de mim


antónio paiva

06 novembro, 2008

na escrita sinto-me em férias do mundo

na escrita sinto-me em férias do mundo.
dentro dela;
não me considero obrigado a nenhum civismo.
tão-pouco;
a qualquer congeminação telúrica ou humana.

nela me debruço;
e apetece-me tudo menos ser responsável e ético.

ainda que as coisas do mundo;
se me entranhem na alma até ao cerne,
e não me deixem esquecer;
o dever de ser solidário para com quem sofre.

nela me sinto livre, aliviado e contente;
sim, porque a tristeza e eu somos a mesma pessoa.

antónio paiva

*inspirado na leitura de um texto sobre o Algarve, da autoria de Miguel Torga.