27 setembro, 2010

quem lhe desse uma pancadinha carinhosa no toutiço

dói-me o meu próprio embaraço, sempre que apalpo o meu desconforto intuitivo. a maior parte do tempo apetece-me encerrar; antes que esvazie a destempo as minhas prateleiras da lucidez. embora não duvide que ainda estou lúcido e capaz de enfrentar toda e qualquer coisa em forma de gente e, apesar de em tempos um ignóbil habitante de Jericó, se ter deslocado à beira do rio com o firme propósito de me surrar até à medula dos ossos, a verdade é que todo ele se me parece doente de morte. tomba e rola, tomba e rola; desmorona!, apresenta sinais de musgo, fungos e, onde outrora já exibiu penachos, surgem um pouco por todo ele crostas de pura demência. quem lhe desse uma pancadinha carinhosa no toutiço, repito; carinhosa, que não sou fã de violência, nem quero que a vã criatura afanique aparatosamente. desejo-lhe acima de tudo uma comoção com estilo e a gosto. e, que; quando chegar a sua hora, venha o anjinho da carroça nocturna e o leve em bem…

11 setembro, 2010

retalhos

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a vida mente-me, as pessoas mentem-me. eu recolho as redes tranquilamente e depois minto-lhes também. mimetismo derramado em gestos; riso, choro, recusa, anuência, desejo, negação, ausência, presença, partilha, egoísmo, inveja, reconhecimento, amor, desamor, renúncia e recomeço.
umas vezes sou mais, outras sou muito menos, outras ainda volto-me as costas, outras tantas vejo-me na íntegra. espectro de querência durante a manhã, lugar de esopo ao entardecer, porque os espelhos mentem todas as noites. há em mim uma longanimidade intermitente, por vezes bálsamo, por vezes autoflagelação.
sou capaz de amar entre as fases da lua e nos plenilúnios, não sou capaz de viver sem um amor que acasale com o meu, ainda que eu seja a maior parte do tempo um rio de ausência. nem sempre é fácil transpor o pórtico ogivado e chegar até mim, no entanto rendo-me facilmente à surpresa do gesto, à delícia de me deixar escorrer pelo mel dos lábios, com os olhos marejados de sal.
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04 setembro, 2010

Recensão Crítica a Livro Imperfeito de António Paiva

Recensão crítica a Livro Imperfeito de António Paiva, publicada na Revista brasileira online TODAS AS MUSAS, Revista de Literatura e das Múltiplas Linguagens da Arte.
www.todasasmusas.org

A imperfeição ganha corpo (de letra) – Tiago Aires

Professor de Língua Portuguesa e Português do 3.º ciclo e Ensino Secundário no Colégio D. Diogo de Sousa – Braga, Mestre em Literatura Românica, Estudos Brasileiros e Africanos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

A quem leu e a quem não leu o livro, sugiro que sigam o link
http://www.todasasmusas.org/03Tiago_Aires.pdf acho que vale a pena despender algum tempo na leitura do artigo.