31 dezembro, 2007

Até 2008


(fotografias antónio paiva)
Estimadas amigas e estimados amigos, é com estas imagens recolhidas por mim, hoje entre as 07:30 da manhã e as 07:45, aqui de casa. Que me despeço de todos vós até 2008. Se tiverem paciência vale a pena clicar nas imagens.
Desejo a todos:
  • UM FANTÁSTICO ANO DE 2008!!!

22 dezembro, 2007

Mais um ano de existência desta pastagem

Lugar comum mas verdadeiro, o tempo voa. Mas é de algum modo compensador, que as memórias e os factos possam ficar gravados. Tanto melhor quando há partilha e convivência.

Faz hoje precisamente dois anos que esta pastagem começou a ser semeada. O tempo foi passando, foi sendo regada e cuidada conforme as minhas capacidades, a minha disponibilidade e vontade. Pouco mais quero dizer sobre isso. Espero continuar a sentir vontade de o fazer. Enquanto sentir que o consigo fazer com alguma qualidade e oportunidade. Assim farei.

Resta-me agradecer a todos quantos aqui passam de forma anónima ou não.

Uma vez que é Natal, não me vou prender com pormenores sobre a forma como eu o encaro, nem como cada um o encara.

Desejo a todos um Bom Natal e já agora se puderem contribuam para um bom Natal de todos.

Um forte abraço a todos!

20 dezembro, 2007

Em jeito de oração

Uns pés descalços e gretados doem muito. Uma boca descalça a sofrer em silêncio dói muito mais. Um corpo que definha até virar cinza. A dor desaparece, a morte corta como uma lâmina sem provocar dor. O que sangra dos teus olhos? A dor? Ou a evidência crua da traição? O teu quarto é o Inverno mesmo quando agonizas ao calor tórrido de África.

És recém-nascido, és uma criança de meses, és um jovem, um adolescente, um adulto, um idoso, não importa a tua idade. Empurram-te para os campos minados, para as areias do deserto. Atraiçoam-te, ferem-te até à profundidade onde nada se esclarece. O caminho da água é o desespero, envenenam as nascentes.
O coração do diabo comparado com o desses biltres é quase terno.

É insensato dormir escapando moralmente a estes crimes. Há os criminosos activos que executam a sentença de morte, mas não menos responsáveis os coniventes e passivos. Para estes últimos, a pena mínima, era a amargura instalada na própria carne, no próprio sangue. Um formigueiro de vergonha devia-lhes percorrer a pele, poro a poro, provocando-lhes uma sensação miserável. Tão miserável que lhes condenasse o pensamento a trabalhos forçados. Mais pesados que a insónia e a fome.

E o Vaticano Senhor?

Não acredito que concordes com toda aquela opulência e riqueza. Não acredito que concordes que a fé dos homens bons, a dor, a miséria, a doença, a fome e a vida de seres humanos, seja explorada para alimentar a vida palaciana dos teus representantes. A fausta mesa de pão e vinho que diariamente lhes é servida.
A cada movimento dos seus gulosos maxilares corresponde o choro de uma criança a morrer de fome, o desespero de uma mulher violada, um corpo trespassado por uma bala…

Não, Senhor, de facto não sou um fervoroso e devoto praticante. Mas respeito a fé de cada um, tenho a minha própria fé. Rezo muitas vezes à minha maneira. Na verdade quando escrevo algo como o que agora estou a escrever, considero uma oração, plena de fé, convicção e de razão. O maior templo criado por Ti é o Mundo, por isso em qualquer lugar do mundo, cada um de nós pode dar expressão à sua fé. Estou certo que concordas comigo.
Tenho muitos pecados, sei que tenho. Mas em nenhum deles está escondida a morte de ninguém. Nem tão pouco a indiferença. Sei que és sensato e não me queres perfeito. O que na verdade Tu queres é que eu e os outros não sejamos criminosos, quer por acção, quer por conivência.

Isso, eu tenho a certeza que Tu não queres mesmo!

19 dezembro, 2007

Sessão Conjunta de Autógrafos, Na FNAC Madeira, dia 23 de Dezembro

No próximo domingo dia 23 de Dezembro, a partir das 11 horas da manhã, até cerca das 13 horas, terá lugar na Fnac Madeira, uma sessão conjunta de autógrafos. Na qual participarão os seguintes autores:

Ana Teresa Klut

António Cruz

António Paiva

Compareçam e divulguem!

Para além dos autógrafos, os autores terão o maior gosto em inter-agir com os leitores e amigos.

Até lá!

07 dezembro, 2007

Prémio Nobel

São tantas as vezes que abro um livro e invariavelmente detenho-me nas mesmas páginas. Actos ilúcidos de uma lucidez que se anseia. O saber da existência de escritores que nunca escreveram uma palavra, que nunca publicarão um livro, mas que dia-a-dia registam nas páginas da vida, escritos dignos de um prémio Nobel da Literatura. Neste estruturar da existência, feito de leituras, entre frases e parágrafos inteiros. A memória devolve-me os anseios de tantos que viram os seus sonhos virar pesadelos. Quando os sonhos se desordenam, o espírito fica difícil de soerguer. É nestes momentos que desejo confundir-me com a terra, para que não me perturbem o pensamento. Sempre que me apetece desistir, verifico que somos feitos de incoerências, contradições e outras particularidades singulares. Na eminência de pronunciar o meu nome, multiplica-se o segredo das palavras. A procura de algo mais ajustado à inexistência da perfeição consome-me o sono, complica-me os dias, dificulta-me de algum modo, o comunicar com os da minha espécie.

Permaneço parte dos dias a ler, sempre presente está a consistência de algumas palavras, mesmo quando os gestos as ignoram. Identifico com naturalidade as crianças pelos olhos, reconheço o olhar dos mendigos, habitantes de todas as ruas do abandono nas cidades. O seu pedir de esmola deixa-me assustado, sinto o medo a percorrer-me o cérebro em arrepios. Nenhum medo nos prepara para outro medo. Todos eles são diferentes, isolados, violentos, devastadores. Proferimos tantas palavras desnecessárias à nossa sobrevivência, facilmente nos tornamos eternos amantes da culpa. Sempre que o sol aquece, o brilho das folhas das árvores fica mais intenso. É quando me lembro que só por existirem árvores, devíamos agradecer à vida. Observo-as, sinto haver em mim um universo de palavras adormecidas, que um dia hão-de despertar. O anseio das longas tardes de Verão, serenamente a olhar o mar, o submergir na vida interior de cada um de nós. O murmúrio de uma palavra, por alguém que luta desesperadamente pela vida, impressiona de tal modo, que se torna impossível alguma vez esquecê-la.

Assim se compõem livros sem escrever uma só palavra, ficando dispensada logo à partida toda e qualquer revisão de texto. As análises críticas e literárias, revelam-se inúteis, tal como o são sempre. O ideal era que os livros não precisassem de sair do imaginário. Não haveria registo, dizem-me. Pois que digam. Eu respondo: Aprenderíamos a ler com mais interesse nos olhares que nos são generosamente oferecidos. Escutaríamos com mais atenção aquilo que nos querem dizer, quase nunca escutamos, porque achamos que o que temos para dizer é sempre mais importante. Entre mim e nós, a beleza da palavra partilhada, é um lugar de privilégio. Atarefados e atolados em banalidades estéreis não damos conta disso. Acabamos por sucumbir na abstracção do pensamento. Debato-me na luta obscura entre a palavra e a narrativa. Nesta ânsia obstinada de me tornar perceptível. Cada vez mais me convenço, que nada posso fazer contra a espessura da existência, senão escrever. É redutor eu sei. Mas deste modo vou recolhendo instantes privilegiados do essencial da vida, em cumplicidade permanente, com escritores que nunca escreveram uma só palavra, mas que deixam a brilhante obra da sua existência.

Seremos nós apenas ecos e sombras? Viveremos as dúvidas até um sinal que nos ilumine a razão?

Embora eu não tenha a certeza se a vida é isto ou outra coisa qualquer, vou registando pormenores, as coisas mínimas a que poucos dão atenção. Na verdade as pessoas são por natureza distraídas, de si e dos outros, sobretudo naquilo que as revela.

antónio paiva

Bom fim-de-semana a todos.

02 dezembro, 2007

Amigos















seres estranhos até um dia
em que os passamos a amar
e passamos a ser amados por eles

são tantas as vezes que adormecemos nas suas tristezas
acordamos felizes nas suas alegrias e conquistas

há um olhar nobre entre nós
um sentir intemporalmente puro
um estar eternamente adolescente

na amizade um imenso campo fértil
onde arduamente lançamos todas as sementes que queremos preservar

há nisso o que as palavras não sabem
uma mistura de essências
que o lado esquerdo do peito tão bem nos sabe dizer

tal como em todas as paixões se cometem exageros
na verdade sentimos, acredito que seja isso o amor que tanto se fala




antónio paiva
Boa semana a todos.