29 outubro, 2007

Regionalismo Madeirense

Recebi por e-mail, desconheço o autor do texto, mas achei-o delicioso e decidi partilhar convosco. É regionalismo Madeirense, lido com sotaque, então é mesmo de partir a rir.


Ah Estapoilha!!!
Era uma vez…

Tava o vendeiro ao paleio com o vadio do vilão quando ouviu uma zoada.

Era a água de giro.

O buzico do levadeiro que vinha mercar palhetes à venda, vinha às carreiras e às parafitas com o bizalho.

Dá-lhe uma cangueira, trompicou no matulhão do vilhão.

Bate cas ventas no lanço e esmegalha a pucra.

O vilão dá-lhe uma reina vai a cima dele para lhe dar uma relampada, patinha uma poia.

Ficou todo sovento.

O vendeiro dá-lhe uma ressonda por ele querer malhar num bizalho dum pequeno. Vem o levadeiro, e, ao ver o vassola, que anda à gosma e a encher o pampulho à custa dos outros, a ferrar com o filho, fica variado do miolo e diz-lhe umas.

O vilão atazanado, atremou mal e pensou que ele lhe tinha chamado de chibarro, ficou alcançado, deu-lhe uma rabanada e foi embora todo esfrancelhado.
O levadeiro ficou mais que azoigado mas lá foi desatupir a levada.

O piquene chegou a casa todo sentido, com um mamulhão.

A mãe que é uma rabugenta mas abica-se por ele, ao vê-lo todo ementado, deu-lhe um chá que era uma água mijoca, pensando que canalha é mesmo assim, mas, como ele não arribava, antes continuava olheirento, entujado e da chorrica foi curar do bicho virado e do olhado.

O busico arribou e até já anda a saltar poios de bananeiras na Fajã.


Boa semana a todos/as.

26 outubro, 2007

a fome é tanta





a fome é tanta,
que os olhos lhe caiem na sopa
o frio é tanto,
que a manta rota lhe parece um embuste
a dor é tanta,
que o sangue lhe verte das órbitas vazias
o abandono é tanto,
que se resigna à monotonia das insónias,
ouvindo noites a fio o barulho do relógio da torre,
marcando implacavelmente,
os segundos de uma morte em vida
a raiva é tanta que grita:
que sabeis vós poetas de circunstância?
que tanto cantais a vossa dor,
uma dor tantas vezes mentirosa


antónio paiva

22 outubro, 2007

Lançamento e Agenda do Livro Navegando nas Palavras

Caros amigas e amigos, é com enorme satisfação que vos anuncio o lançamento do meu novo livro. Com ele pretendo apoiar mais uma instituição, a Ajuda de Berço. Que acolhe crianças em risco dos 0 aos 3 anos de idade.

A vossa presença e apoio são indispensáveis.
Ficam desde já todos convidados!

Deixo aqui a agenda de eventos do livro:

AGENDA DO LIVRO NAVEGANDO NAS PALAVRAS

LANÇAMENTO LISBOA

DIA 03 DE NOVEMBRO ÀS 17 HORAS

LIVRARIA BULHOSA

CAMPO GRANDE 10-B

LANÇAMENTO POR UM CONJUNTO DE POETAS

HELENA PAIVA, MANUEL CARDOSO, MARIA JOÃO PAIVA, VANDA PAZ, VERA SILVA

APRESENTAÇÃO PORTO

DIA 08 DE NOVEMBRO ÀS 21:30 HORAS

FNAC NORTESHOPPING

NORTESHOPPING

APRESENTAÇÃO POR MARIA JOSÉ PINTO

APRESENTAÇÃO ANADIA

DIA 10 DE NOVEMBRO ÀS 17 HORAS

MUSEU DO VINHO

ANADIA

APRESENTAÇÃO POR VANDA PÓVOA e ROSA ANSELMO

COM A COLABORAÇÃO DO ACORDEONISTA JOAQUIM PEIXINHO
APRESENTAÇÃO COIMBRA

DIA 11 DE NOVEMBRO ÀS 17:30 HORAS

FNAC COIMBRA

COIMBRA


APRESENTAÇÃO POR CONCEIÇÃO CAMPOS
APRESENTAÇÃO VILA NOVA DE POIARES

DIA 12 DE NOVEMBRO ÀS 12 HORAS

ESCOLA Dr. DANIEL DE MATOS

VILA NOVA DE POIARES


APRESENTAÇÃO POR PAULA CAÇÃO
APRESENTAÇÃO MADEIRA

DIA 17 DE NOVEMBRO ÀS 17 HORAS

FNAC MADEIRA

FUNCHAL

APRESENTAÇÃO POR POLICARPO NÓBREGA

19 outubro, 2007

O sabor das marés

Não sei onde guardar os silêncios do rosto. Não sei como desenhar-te os corpos crescendo num manto de ondas. São tantas as vezes em que a minha boca se funde no fogo dos teus lábios. Que adianta dizer-te que a madrugada é pôr-do-sol da lua cheia. Se a essa hora já não escutas apenas me sentes.

Soubesse eu incendiar marés e chorar lava sem secar o tempo. Ficaria aceso na tua noite o tempo todo. Nos teus olhos nasceriam campos de trigo. Onde tu me colherias grão a grão. Matando a tua fome de mim. Aconchegando o celeiro do teu corpo.

O canto dos silêncios ao sabor do serpentear do vento. Melodias da sede dos teus lábios. Amanhecer colhendo as maçãs do teu rosto. Adivinhar-te no canto do pássaro. Contemplar a gestação dos sonhos. A vertigem lúcida do oceano. O vai e vem dos nossos corpos feitos de ondas. Saboreando a tua espuma. Poisando o meu rosto no teu ventre.

No teu corpo a minha língua desenha as marés. Os meus dedos percorrem a pauta do teu corpo. Em busca da melodia perfeita. Vibrante é todo o teu ser. Perfeito. Agora somos espuma do mesmo oceano. Dois corpos um só barco. Sem amarras. Premiando a loucura do amor. Na baía do teu corpo apanho as conchas. Com que farei o leito onde te deito a repousar. O sabor das marés também pode ser doce. O sabor das marés é doce.

Fico por aqui na beirinha do teu sono. Enquanto as algas soluçam nas ondas. Os búzios tocam alvoradas. As gaivotas adivinham o sol. Ao longe na muralha o pescador lança o anzol. Nasce o dia. Aqui nasceu uma promessa. Uma promessa de vida.

16 outubro, 2007

Memórias vivas

Mesmo que não haja Verão, haverá sempre a nostalgia, os meandros indizíveis de outros corações.

As dunas onde te deitas e me ofereces o teu corpo. Os espaços marinhos. A ternura em espasmos. Nada mudou desde o primeiro dia. Assim continuamente.

Aposto nestes momentos, todo o fulgor do tempo. O desejo cavalgando mar adentro. Sem limites. E já perto, muito perto, o clímax o êxtase. Vislumbro ainda horizontes maiores.

Amanheço, percorrendo os lugares do sonho. Espraio-me por inteiro nas confidências dos teus sussurros. Há o mistério que te suporta. O sorriso que te beija o olhar a toda a hora. Peito aberto, aceitas-me, tal como o parágrafo aceita a palavra certa.

Na melhor taça me serves o delicioso néctar que o teu corpo encerra. É tão mais fácil sentir, do que dizer ou descrever. Na pausa, passeio-me contigo, parece nada ter acontecido. As vagas vão e voltam. Entardece como de costume à mesma hora. O repouso. O cais. O pequeno barco preso pelas amarras. O vento do desejo faz inchar de novo as velas feitas dos nossos corpos.

Entre uma e outra vaga, fazemos amor de novo. Sacudimos os corpos, como se nos fossem estranhos. É a essência que procuramos. A mistura harmoniosa. Paira o silêncio. O bater dos corações dissolvido pela brisa. A subtil diferença de usar os corpos. Onde até o sofrimento parece sensual.

Memórias tão vivas como as marés. Olhos de água, a ternura sublime. Ondas de amor. Soluços de peitos magoados, sufocando o respirar. Teu corpo de mulher espreguiça ao vento.

A minha teimosia de encher as gavetas de nuvens. O conflito entre o meu corpo e a minha mente, leva-me a não acreditar em nenhum deles. Um escriba medíocre e péssimo amante. É o meu espólio. O meu cartão de visita.

Memórias tão vivas como as marés. A ilha pode ser o quarto. O desenhar o vértice da noite onde nos consumimos sós. Luar aquecido pelo choro. O calar-te pela emoção. Venerando a manhã criada no teu ventre. Dentro de ti é agora a minha morada.

Se já cometi o desaforo de afirmar que escrever poesia é fazer amor com as palavras. Devia ter a coragem para afirmar: Que fazer amor contigo é poesia.

antónio paiva

14 outubro, 2007

Crónica de todos os dias

Há momentos que não vão para além do pisar da garganta.

O meu corpo mede o nível das águas.

Matéria saturada, impedindo a drenagem da agonia. A submersão irreversível é cada vez mais evidente.

Eu e sempre eu, com esta tendência obstinada de falar dos outros, como se de mim se tratasse. Esta vontade compulsiva de plagiar vidas alheias. Ou ainda o enlace sempre falhado entre os desesperos de outros e os meus desencantos.

Sou uma sentinela que falta demasiadas vezes ao render da guarda. Falta-me a persistência do sol, que se levanta todos os dias.

- Sabeis.

Toda a minha originalidade (ilusão minha), já consta de todos os livros. Nenhum deles foi escrito por mim. Obviamente que me apetece acusar de plágio todos eles. Porque de forma inequívoca me adivinharam antes de eu nascer. É frustrante.

- É nesta angústia que emprego todo o meu tempo.

Na verdade sou apenas mais um que à noite amaldiçoa o dia. Redutor, dolorosamente redutor. A dor é ainda mais aguda quando tenho de incentivar outros. De lhes dizer que não desistam. Tenho a felicidade de amar as palavras. Reconheço o quanto elas são generosas comigo. Conheço portanto muitas delas, faz sentido que delas faça uso, antes que empregá-las deixe de ter cabimento.

- Consigo divertir-me, com os olhares e sorrisos irónicos, que me são lançados sempre que digo: Publiquei um livro. (Implícito está o pensamento: Olha mais um inútil que gostava de viver sem trabalhar).

A vida está muito para além das regras de sintaxe, a pontuação irrepreensível é dispensável, a colocação meticulosa dos acentos não mata a fome nem o desespero. A vida é incontornavelmente uma prova de fundo repleta de obstáculos.

- Há uma corja que vive e bem, parasitando esventrando a escrita de poetas e escritores mortos. Invariavelmente todos morreram de fome e de frio. Fome de reconhecimento e frio de afectos. Da pobreza material nem vale a pena falar.

Não peço que me entendam, nem eu próprio consigo.

antónio paiva

Boa semana a todos/as.


11 outubro, 2007

Conferência

A sala está vazia. As paredes pintadas de sombras. O ideal era que as memórias galgassem as falésias e se apoderassem do interior. O conferencista afirma: Convenhamos que a morte é o que há de mais repetitivo. A tal ponto que se torna insignificante. Nem sempre é fácil discernir a mentira da verdade. O medo é que a coloca em evidência.

- Não se ouviram aplausos, alguém tossiu.

Quando acenderam as luzes, era visível o desespero de todos em busca da sobrevivência.

- Dizem os especialistas que as palavras continuam a nascer nos campos, sendo essa a razão de eles serem verdes.

- Eu ainda estou por cá. Não, não é uma questão de tempo. É uma questão de circunstância. À beira das palavras, cada vez mais escassas. Percorro a serra, apanhando os troncos secos das giestas para acender o lume.
Vejam lá bem, que até já houve quem se atrevesse a escrever, que junto das falésias se pode encontrar o mar inteiro, pendurado nas palavras.

O moderador afirmou que não havia ligação entre uma coisa e outra.

- Nem sempre há. O que há, é uma voraz apetência para a lógica das coisas. Dessa forma tudo se torna mais fácil. Dizem.
antónio paiva

09 outubro, 2007

Dentro de mim às vezes também se está bem

Dentro de mim às vezes também se está bem, é por isso que muitas vezes saio e volto a entrar. Poiso o rosto no lugar do costume, penduro o corpo para o não amarrotar. Os olhos. Os olhos, esses adormecem. Lá fora o sol apagou-se, mas não sinto frio. É dentro de mim que me aqueço, desde quando o teu calor partiu. Aquela casa que construímos na encosta soalheira, de alicerces feitos de ti e de mim. Com beirais rendilhados de palavras sentidas, onde as andorinhas desenhavam a Primavera. A trepadeira viçosa e de braços esperançados de verde, com que o teu corpo enleava o meu. Amareleceu. Ensombrando a parede pintada de branco. Que ambos prometemos manter alva. Mas não. Isso já foi há tanto tempo, não foi? A maior parte dos dias parece-me que foi ontem. Mas isso sou eu, que fiquei aqui a esgravatar no tempo, à procura de respostas. Tu, mais sensata, já encontraste as respostas há muito, por isso dobraste e arrumaste cuidadosamente as nossas vidas e partiste. Afinal de contas o oceano é imenso. Porque haverias tu de ficar aqui, a chapinhar nesta poça de água parada? Está gravada na minha memória, a imagem do teu salto gracioso para a água, mergulhaste, e emergiste, mergulhaste e imergiste, mergulhaste e imergiste. Sim. Foram três vezes, na última acenaste-me em sinal de adeus, não te voltei a ver. Dentro de mim às vezes também se está bem. Poiso o rosto no lugar do costume, penduro o corpo para o não amarrotar.
antónio paiva

07 outubro, 2007

podias estar aqui






podias estar aqui,
onde os meus lábios terminam
e começa o mar dos meus pedaços

podias estar aqui,
na janela onde debruço a alma,
em gestos do meu rosto, a recordar-te

podias estar aqui,
só no teu rosto vi a aurora,
como nunca vi em mais algum

antónio paiva
E porque há momentos, em que se sublima a vida e os momentos com palavras, tão só nossas, sem preocupação que nos e, as entendam. O meu egoísmo, assim ditou, que ficaria aqui, sem comentários.
Boa semana a todas/os.


06 outubro, 2007

até os Burros vacilam


Hum, apesar de sermos o que somos, ostentando orgulhosamente a bandeira da Burrice, também vacilamos. Ah pois, vacilamos sim, ou pensam o quê?

Devem pensar que isto de ser Burro é tarefa fácil.

É muito mais difícil ser Burro, que gerir o negócio dos McCann.


T-shirts, pulseiras etc. etc. com top de vendas e tudo.

Presumivelmente inocentes, até no negócio sujo, porco, nojento, é de vomitar!!!!


Lá matar, matam, matam inocentes, até querem matar a realidade. No entanto essa é tão dura que permanece viva.

03 outubro, 2007

tens-me sido fiel

(fotografia antónio paiva, hoje 07:00 da manhã) (fotografia antónio paiva hoje 08:00 da manhã)
(fotografia antónio paiva hoje 08:00 da manhã)
(fotografia antónio paiva hoje 08:00 da manhã)
(fotografia antónio paiva hoje 08:00 da manhã)

Madrugada, tal como sempre, hoje prometeste-me apenas, que a seguir seria manhã