28 janeiro, 2009

um grito em cada verso






ilusões meio ardidas
de poeta discursando à lua
quais beatas de cigarro

nem nos olhos nem na pena
lhe brotam palavras felizes
o mundo a sangrar discórdia

nuvem de todas as nuvens
arame farpado de preconceitos
a sombra pesada no peito

depois mentem-lhe
mentem-lhe sempre a eito
em sementeiras de antolhos

e na fúria sagrada do poema
sem medo de punhais ou infâmias
de olhos bem abertos fixando o mundo

ouviu-se um grito em cada verso;
sacripantas, mangas de alpaca,
cata-ventos miseráveis, pulhas do universo,
abaixo a morte e a mentira, abaixo a morte
e a mentira! abaixo! abaixo! abaixo! abaixo!

27 janeiro, 2009

dúctil existir


na caducidade do sentir
tombam sobre os ombros
amareladas folhas de pesar

do outro lado do muro
inanimada a boa donzela
necessariamente vulnerável

suave e bela silhueta
de um conto antigo
protegida pelo lacre do progenitor

o tempo vazou todas as marés
cresceu e viveu na comoção
a alma palmilhou de lés-a-lés

nas páginas do diário
desnudou os desejos do corpo
boca faminta e maturado cio

reservou-lhe o destino a solidão de pedra
sucumbiu sob o jugo austero do suserano
o rosto soletrou a dor no desalinho da treva

26 janeiro, 2009

jardim da alma




tua alma agora livre da desventura
sonha docemente com as delícias da lua
agora entre flores, uma outra flor fulgura
guardando nas pétalas uma lembrança tua

24 janeiro, 2009

antítese





não foi a morte que os matou
foi a vida que os levou
e se tu pensas que estás inocente
é o teu pensar a morte de muita gente

23 janeiro, 2009

in Genéricos 15

“Desejo ainda jovem: morrer exemplarmente para que vocês escutassem como é um povo que me escreveu sempre.” (Maria Velho da Costa) E, como quem escreve, é tão original quanto a vida de cada um, na originalidade das coisas comuns, onde nos fundimos e até confundimos. Sois todos vós que me resgatais ao tédio, quando dele tenho consciência. Me libertais do exílio de quem sou, plagiando-vos descaradamente. E sim, escreveis-me todos os dias a todas as horas, e nem sempre dais conta disso.

uma espécie de escritos avulso

para ler sem receituário

antonio paiva


22 janeiro, 2009

in Genéricos 14




“O gesto adiado enrola-se sobre si mesmo e adormece.” (Filomena Cabral) As casas já não me parecem lembranças vivas. As pessoas que mais me viam partiram; talvez sequiosas do eterno. As que restam estão à espera de partir enfrentando as agressões do transitório.
uma espécie de escritos avulso
para ler sem recituário
antónio paiva

21 janeiro, 2009

in Genéricos 13




Repousa agora em paz Dom Quixote, por via da crise, não há mais lona para moinhos de vento. Não sei porque se escandalizam os que me atacam, quando escrevo para os ferir. Pois se é mesmo com essa intenção que o faço.

uma espécie de escritos avulso

para ler sem receituário

antónio paiva


20 janeiro, 2009

in Genéricos 12

(fotografia antónio paiva)

o teu rosto nascia no mar e eu venerava-o por entre o sabor do nosso eterno nevoeiro.” (Ângela Almeida) A vida é uma praia aberta, um barco carregado de gente à espera de uma abertura para largar. Enquanto deslizamos na liquidez dos braços do amor. Divina ode oceânica, a única; onde o naufrágio assume o significado de salvamento.
uma éspécie de escritos avulso
para ler sem receituário
antónio paiva

Quem me conhece sabe que sou adverso a correntes, no entanto foi-me feita uma solicitação de modo tão simpático, e o assunto é premente e actual, que aqui deixo o link, para quem a quiser seguir.

16 janeiro, 2009

Uma nova casa para vos receber

(clicar na imagem para aceder)
Para os amigos, leitores e visitantes, há um novo sítio onde vos receberei com muito prazer. A minha página pessoal. Naturalmente, que por aqui continuarei a deixar palavras minhas. Aliás, há um caminho de volta até aqui.
Vá lá, toca a visitar, não me obriguem a chantagear-vos! E, se a quiserem divulgar, adicionar, falar dela a toda a gente, gatinhos e cochorrinhos, estejam à vontade.
Um grande braço de estima e amizade.

08 janeiro, 2009

in Genéricos 11




Todos sabem o que eu amo, todos sabem o que me repugna.” (Alves Redol) Os senhores dos pesadelos fabricam-nos sem intervalo. Fazem-nos de carne e sangue, embate de força bruta. Cruciante entrar e sair no transe da plena angústia. Não me deixam descansar.

uma espécie de escritos avulso
para ler sem receituário
antónio paiva

05 janeiro, 2009

in Genéricos 10




Pode até parecer um tremendo disparate, é até bem provável que o seja. Mas – a pobreza já teve dignidade. E, o facto de a ter perdido – deve-se ao empobrecimento – de muitos dos novos-ricos. Conclusões saídas do tear de tecer razões. Seja lá isso o que for.

uma espécie de escritos avulso
para ler sem receituário
antónio paiva

04 janeiro, 2009

in Genéricos 9




As lágrimas do banqueiro são a chuva ácida dos nossos dias. Estão ilíquidas as acções ao portador. E, para mal-dos-seus-pecados, cai a pique a euribor. Para consolo das suas súplicas de pedinte, são tapados os buracos à custa do contribuinte.

uma espécie de escritos avulso
para ler sem receituário
antónio paiva

03 janeiro, 2009

in Genéricos 8




Na oficina do imaginário, coutada perene de lirismo e paradisíaco devaneio, onde o artista alimenta o génio. Aqui, à beira deste azul ondulado, o talento é necessário – mas – carece de sustento.


uma espécie de escritos avulso
para ler sem receituário
antónio paiva

02 janeiro, 2009

in Genéricos 7

Devaneio em pauta, sinfonia da alma, uma morada arejada de manjericos nas janelas e malmequeres nas varandas. Um aroma intenso a desejo estendido no tapete da sala. Alma-alada e ao rubro sob o fogo intenso do lado esquerdo. E se amar é verdade, então que o seja em todo o esplendor da liberdade, e no enlevo das almas.

uma espécie de escritos avulso
para ler sem receituário


antónio paiva

01 janeiro, 2009

Bem Vindos a 2009






(todas as fotografias antónio paiva)

Acredito que somos capazes de fazer de 2009 um bom ano!

Abraço.

Funchal 01/01/2009





Funchal 01/01/2009





Funchal 01/01/2009





Funchal 01/01/2009