Sentir como quem vê
Neste viver às vezes morno, um estado de nem vida nem sonho. Nem mágoa nem amargura. Nada. Desligado. Vou a terraço ver-o-mar, vou ver por que preciso de ir. Vou por que ver me é importante. Depois vagueio nas palavras. Vagueio nelas por necessidade.
E por não acreditar que um corpo seja capaz de reter uma alma, e por acreditar; que uma alma será sempre capaz de evadir de qualquer cativeiro. Por tudo isso e por sonhar também, esvai-se a sombra dentro do peito. Se a ciência fosse exacta, exporia todas as verdades, e nada restaria por descobrir.
Não raras vezes, sou acometido pela angústia, de não sentir mais do que sou capaz de sentir. E muitas vezes o que sinto está tão longe, por que, muitas vezes o que mais se sente é longe. É como se de um universo de verdades incógnitas se tratasse.
Agora observo a minha gata estendida ao sol, e o escrever alcança alguma ternura. Experimento fechar os olhos também, em busca do requinte na escrita. O leve toque das pálpebras agrada-me, e uma brisa subtil emoldura-me o rosto.
Entardece a esta hora, recordo as videiras a trepar os salgueiros, nas margens daquele rio distante, quase remoto. E sinto como quem vê, o miolo do bago espremido pela ponta dos dedos, a saltar para dentro da minha boca infante.
E fecho de novo os olhos, num êxtase de conter vida, e sonho. Habitará para sempre dentro de mim, aquele sabor a melão maduro, das uvas colhidas nas videiras a trepar salgueiros, à beira daquele rio quase remoto. Neste fim de tarde quase solene, entretenho-me a escrever como quem sente. Um sentimento eterno, e nada mais, uma leve substância do espírito, contudo; a verdade.
Se eu deixar de sentir como quem vê, deixo de estar vivo.
E por não acreditar que um corpo seja capaz de reter uma alma, e por acreditar; que uma alma será sempre capaz de evadir de qualquer cativeiro. Por tudo isso e por sonhar também, esvai-se a sombra dentro do peito. Se a ciência fosse exacta, exporia todas as verdades, e nada restaria por descobrir.
Não raras vezes, sou acometido pela angústia, de não sentir mais do que sou capaz de sentir. E muitas vezes o que sinto está tão longe, por que, muitas vezes o que mais se sente é longe. É como se de um universo de verdades incógnitas se tratasse.
Agora observo a minha gata estendida ao sol, e o escrever alcança alguma ternura. Experimento fechar os olhos também, em busca do requinte na escrita. O leve toque das pálpebras agrada-me, e uma brisa subtil emoldura-me o rosto.
Entardece a esta hora, recordo as videiras a trepar os salgueiros, nas margens daquele rio distante, quase remoto. E sinto como quem vê, o miolo do bago espremido pela ponta dos dedos, a saltar para dentro da minha boca infante.
E fecho de novo os olhos, num êxtase de conter vida, e sonho. Habitará para sempre dentro de mim, aquele sabor a melão maduro, das uvas colhidas nas videiras a trepar salgueiros, à beira daquele rio quase remoto. Neste fim de tarde quase solene, entretenho-me a escrever como quem sente. Um sentimento eterno, e nada mais, uma leve substância do espírito, contudo; a verdade.
Se eu deixar de sentir como quem vê, deixo de estar vivo.
9 comentários:
Voltei de férias e vim feliz!
Há sol dentro de mim
Respiro todas as cores
Há Verão, há flores
Como é bom sentirmo-nos assim!
É bom voltar a este espaço.
Aparece!
Um grande beijinho e até breve.
;O)
Quantas vezes fico sem palavras para comentar... as tuas palavras...
..."escrever como quem sente"...
há outra maneira de o fazer? verdadeiramente?
Um beijinho
Amigo-Poeta,
"Se eu deixar de sentir como quem vê, deixo de estar vivo." sente-se nas tuas palavras que continuas num caminho ascendente. Tu, como os bagos que habitam a videiras que trepam os salgueiros da marquem daquele rio que tu tão bem conheces, amadureces e trepas as mentes dos que por aqui passam.
Beijinho grande e aquele abraço
Neste viver
Às vezes morno
Nem vida nem sonho
Nem mágoa nem amargura
Vou ver-o-mar
Vaguear nas palavras
Por necessidade
O corpo
Não retém a alma
A alma evade
Sonho
Esvai-se a sombra
De dentro do peito
Beijo
Belíssimo este texto! Parabéns!
Viver é sentir e tu sentes...
Texto belissimo como uma tarde de sol!
Um beijo
"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."
- Fernando Pessoa -
P.S. - Tive de voltar para te ler outra vez...E, verdade seja dita, és uma das pessoas que melhor escreve na "blogosfera". Parabéns do fundo do coração.
Beijinhos e até breve.
;O)
... será também a saudade, amigo?!
um beijo.
Já te disse que gosto imenso da tua prosa?
Se eu deixar de sentir como quem vê, deixo de estar vivo.
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Faço minhas estas palavras, se me permites.
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