Dá Alpina ao menino, Abílio!
Dá Alpina ao menino, Abílio! Dá Alpina ao menino, Abílio! Gritava a mãe
debaixo do telheiro no pátio a fazer palitos de flor.
Não dou! Não dou! Esta comprei eu no Toino da Venda com o meu dinheiro!
Respondia o Abílio aos berros na cozinha de paredes encardidas pelo fumo, na
trempe a panela negra como a fome cozia couves quase todos os dias.
O menino chorava alto até se esquecer.
Era um desassossego diário à dejua e à merenda, sempre que o Abílio
conseguia desencantar uns tostões por via de qualquer ajuda que prestava a um
ou outro vizinho, e lá ia ele ao Toino da Venda. Sim, era à dejua e à merenda,
que pequeno-almoço e lanche só se usavam na vila.
Lambuzava-se o Abílio com Alpina espalhada na broa de côdea queimada a
propósito na cozedura para amargar e travar a gula.
Os gritos da mãe, os berros do Abílio e o choro alto do menino, ecoavam
aflitos pelos quelhos e telhados do casario da aldeia, quintais e poios até se
perderem em eco pelos pinhais.
Um retrato de há décadas, que está a renascer, como se fosse o destino
de toda a gente – ou quase toda – para melhor dizer.
2 comentários:
Ai, Alpina.
De repente, tantas memórias. Que delícia (não pela Alpina,mas pela juventude despreocupada, àquela data).
Efim, o meu tempo. Tempo que não volta mais.
Obrigada, por este momento nostálgico.
E eu desejo um excelente 2013, para você!
Um abraço.
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