Crónica de todos os dias
Há momentos que não vão para além do pisar da garganta.
O meu corpo mede o nível das águas.
Matéria saturada, impedindo a drenagem da agonia. A submersão irreversível é cada vez mais evidente.
Eu e sempre eu, com esta tendência obstinada de falar dos outros, como se de mim se tratasse. Esta vontade compulsiva de plagiar vidas alheias. Ou ainda o enlace sempre falhado entre os desesperos de outros e os meus desencantos.
Sou uma sentinela que falta demasiadas vezes ao render da guarda. Falta-me a persistência do sol, que se levanta todos os dias.
- Sabeis.
Toda a minha originalidade (ilusão minha), já consta de todos os livros. Nenhum deles foi escrito por mim. Obviamente que me apetece acusar de plágio todos eles. Porque de forma inequívoca me adivinharam antes de eu nascer. É frustrante.
- É nesta angústia que emprego todo o meu tempo.
Na verdade sou apenas mais um que à noite amaldiçoa o dia. Redutor, dolorosamente redutor. A dor é ainda mais aguda quando tenho de incentivar outros. De lhes dizer que não desistam. Tenho a felicidade de amar as palavras. Reconheço o quanto elas são generosas comigo. Conheço portanto muitas delas, faz sentido que delas faça uso, antes que empregá-las deixe de ter cabimento.
- Consigo divertir-me, com os olhares e sorrisos irónicos, que me são lançados sempre que digo: Publiquei um livro. (Implícito está o pensamento: Olha mais um inútil que gostava de viver sem trabalhar).
A vida está muito para além das regras de sintaxe, a pontuação irrepreensível é dispensável, a colocação meticulosa dos acentos não mata a fome nem o desespero. A vida é incontornavelmente uma prova de fundo repleta de obstáculos.
- Há uma corja que vive e bem, parasitando esventrando a escrita de poetas e escritores mortos. Invariavelmente todos morreram de fome e de frio. Fome de reconhecimento e frio de afectos. Da pobreza material nem vale a pena falar.
Não peço que me entendam, nem eu próprio consigo.
O meu corpo mede o nível das águas.
Matéria saturada, impedindo a drenagem da agonia. A submersão irreversível é cada vez mais evidente.
Eu e sempre eu, com esta tendência obstinada de falar dos outros, como se de mim se tratasse. Esta vontade compulsiva de plagiar vidas alheias. Ou ainda o enlace sempre falhado entre os desesperos de outros e os meus desencantos.
Sou uma sentinela que falta demasiadas vezes ao render da guarda. Falta-me a persistência do sol, que se levanta todos os dias.
- Sabeis.
Toda a minha originalidade (ilusão minha), já consta de todos os livros. Nenhum deles foi escrito por mim. Obviamente que me apetece acusar de plágio todos eles. Porque de forma inequívoca me adivinharam antes de eu nascer. É frustrante.
- É nesta angústia que emprego todo o meu tempo.
Na verdade sou apenas mais um que à noite amaldiçoa o dia. Redutor, dolorosamente redutor. A dor é ainda mais aguda quando tenho de incentivar outros. De lhes dizer que não desistam. Tenho a felicidade de amar as palavras. Reconheço o quanto elas são generosas comigo. Conheço portanto muitas delas, faz sentido que delas faça uso, antes que empregá-las deixe de ter cabimento.
- Consigo divertir-me, com os olhares e sorrisos irónicos, que me são lançados sempre que digo: Publiquei um livro. (Implícito está o pensamento: Olha mais um inútil que gostava de viver sem trabalhar).
A vida está muito para além das regras de sintaxe, a pontuação irrepreensível é dispensável, a colocação meticulosa dos acentos não mata a fome nem o desespero. A vida é incontornavelmente uma prova de fundo repleta de obstáculos.
- Há uma corja que vive e bem, parasitando esventrando a escrita de poetas e escritores mortos. Invariavelmente todos morreram de fome e de frio. Fome de reconhecimento e frio de afectos. Da pobreza material nem vale a pena falar.
Não peço que me entendam, nem eu próprio consigo.
antónio paiva
Boa semana a todos/as.
8 comentários:
"Tenho a felicidade de amar as palavras. Reconheço o quanto elas são generosas comigo. Conheço portanto muitas delas, faz sentido que delas faça uso, antes que empregá-las deixe de ter cabimento."
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Somos dois, somos dois, António.
Apesar de eu não saber escrever livros.
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"...todos morreram de fome e de frio. Fome de reconhecimento e frio de afectos."
Falas de poetas, escritores, filósofos. Poderias falar também de muitos outros - porque o mundo morre de falta de afectos. Os homens mecanizam-se, tornam-se adoradores do ter e do poder. O ser já não vale quase nada. Mas há quem persista em ser, de preferência, alguém bom, mesmo dentro dos limites da humana imperfeição.
Não é uma questão de te entender, mas sim uma preocupação que tenho. apenas....
Boa semana para ti.
Beijinho
OL� AMIGO ANT�NIO
Fico mesmo aborrecida quando estou tempo demais sem visitar pessoas como tu, que sempre me acompanharam na minha vida de blogoesfera.
Os meus posts do alfabeto roubam-me imenso tempo, cada vez mais, acho que fiz as 2 primeiras letras na desportiva, mas como sou muito exigente comigo mesma, vai aumentando o meu trabalho de pesquisa e, na letra F tive mesmo que fazer 3 posts da mesma letra...
Hoje, domingo dediquei-me � letra G e, ainda n�o sei se vai dar s� para um ou ter� que ser 2 posts.
Tamb�m tenho que agradecer PR�MIOS e ando a atrasar tudo...assim n�o d�. N�o sei para que lado me hei-de virar...e, o domingo est� a chegar ao fim...amanh� come�a outra semana de trabalho!!!
Beijitos.
Tinha uma visita a fazer-te. Obrigado pelo teu carinho e, cá estou, de volta. Será gradualmente, mas virei.
Entretanto, já li a a agradável notícia de um novo livro a caminho. Fico contente, António; e, espero, vivamente poder estar presente quando nos vieres apresentar este teu novo "filhote"
Vou enviar-te um email.
Bjt
sabes desabafar faz bem. tudo o que dizes faz muito sentido. Infelizmente a maioria das pessoas não está preparada para a "arte", para o saber juntar de letras, o ir mais além... e muito menos entender o vai na alma de quem escreve no papel...
consigo fazer apenas um esboço do Teu sentir.
Não desistas nunca, ao desistires de Ti estás a desistir dos que amam e apreciam a Tua escrita.
beijo meu
Já agora, vozes de burro não chegam ao céu.... sem ofensa para o teu burrinho :))
Mas tu continuas a preocupar-te com essas opiniões??? ai ai estás cada vez mais "burrinho" :)
Sabes qual é a resposta a essa gente? Isto :) !!! Desarma-os por completo e reduzem-se à sua nata insignificância.
Como dizia alguém "falem mal, mas falem!" :)
E hoje deixo-te um beijo enormeeeeeeeee
Haverá sempre de existir gente assim, mas sempre haverá também gente como você a bradar pelo caminho correto. O importante é nunca desistir...
Nesta crónicas sinto que travamos um dialogo. Vou respondendo, contrapondo e concordando. Gosto disso....
Quantos a falta de afectos não creio... o meu afecto por ti é real mesmo que aqui no virtual.
Não só
conheces as palavras como as sabes colocar bem na folha em branco.
Beijos
BF
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