05 outubro, 2008

Conquistar palmo a palmo o que somos

Na cama onde não estou deitado, o meu corpo ainda dorme e eu continuo acordado. Oficialmente é domingo, e apesar de ser tarde, a lassidão do meu corpo, diz-me que é cedo ainda. Nesta lucidez torpe, a lentidão do meu pensamento, vagueia na inépcia, como se, estando, eu não estivesse aqui.
É neste bem-estar baço de inquietação estagnada, que vivo uma espécie de realidade tépida. Há uma réstia de sol que não aquece, um céu azul quase fingido. Lá longe, ao fundo do mar, há uma névoa que o vento não varre, por estar ausente.
Este olhar antigo que há muito conheço, tão antigo como a paisagem que me trás saudades. Os velhos montes, as árvores antigas e os velhos ribeiros, por onde continuo a chapinhar desde sempre, outrora despido de penumbras, e tudo eram paisagens transparentes.
Ao sabor de moer pensamentos, vou entretendo a espera de coisa nenhuma. Nem mais nem menos do que espreguiçar a existência. Em puro manifesto de direito à preguiça, que, em minha opinião, devia estar consagrado na Constituição, e na Carta dos Direitos Humanos.
Viver é um acto de intenção – ser – o pensamento é livre. A maior parte do tempo actos de impaciência da alma. Sem dúvida espelhados na face. Importante mesmo; é assumirmos a atitude de emancipação em relação ao tédio. O sermos nós sem condições.

Conquistar palmo a palmo o que somos.

4 comentários:

Maria disse...

Às vezes há dias assim, em que apetece fazer nada...

Saudades de te ler...
Um beijo

Joana disse...

Amigo,

Passei há dias ao largo do Funchal...deixei-te beijinhos por entre as nuvens. Espero que tenham chegado até ti.

Conquisto palmo a palmo, todos os dias o que sou e a felicidade dos que me rodeiam, tal como tu.

Beijinho grande e aquele abraço

Vanda Paz disse...

Só assim seremos alguém

beijo

Ana disse...

Em puro manifesto de direito à preguiça...

Essa eu subscrevo.
Porque também é nesses momentos em que nos concedemos o direito à preguiça que melhor vemos, ouvimos e sentimos o que nos cerca e o que nos invade.

Só no conhecimento do mundo interior e exterior podemos entrar em acção acertada.