14 abril, 2009

breve ensaio ao autor






leiam-me com o mesmo vómito de desprezo,
com que deitais o olhar furtivo a um mendigo.
mas leiam-me,
e não me deis palavrinhas de aconchego.
vinde antes temperados de azedume,
zurzindo impiedosamente o chicote do castigo.
mas leiam-me,
que desta alma não ouvireis um só queixume.

e se sois vós ainda tão tenros e já sentados,
pois leiam-me,
e nesse mínimo castigo expiareis vossos pecados.

sou feito de matéria bárbara e firme,
nas palavras me abrigo e busco a nudez do simples.
então leiam-me,
nesta convergência de fluxos e matéria sublime.
nocturno amante de insectos espuma e pedra,
animal à sombra e à chuva de opacos melindres.
então leiam-me,
ao som dos latidos enquanto a iliteracia não ferra!


(de breve em breve se edifica a consciência)

4 comentários:

escarlate.due disse...

leio!!! é claro que leio!!
:)
beijoooooo

Maria disse...

queres azedume? não sei o que é...
nem chicote eu tenho...
:))

beijo, António

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um pouco amargo...parece cantigas de maldizer.

quero ler-te, mas coloca um pouco de mel.

ups...

beij

Vício disse...

nesse "mar" em que navegas é difícil não receber "palavrinhas de aconchego"! elas abundam!
mas em contra-partida... tornam outras poucas(?) "temperadas de azedume" que possam surgir muito mais saborosas...