16 setembro, 2008

O meu cão nunca ladrou ao vento

O cão ladrou-me do palco, um queixume canino, da cegueira provocada pelos holofotes. Queria ver as infantas alinhadas na plateia. Vestidas de extravagâncias levianas num saracotear suspeito, de ancas acorrentadas por doiradas trelas.
A matrafona habituada a conduzir os eventos, por força do cargo público que exercia na cultura, vociferou; alto!, aqui quem lê os poemas sou eu!, se não for eu, será quem eu determinar! Ou então ninguém lê! Já deviam saber quem manda aqui!
Os filisteus aplaudiram a matrafona de pé, quase roxos de exaltação. E, o cão não parava de ladrar, a matrafona não parava de ser matrafona, as infantas sem desalinhar, não paravam de saracotear, e os filisteus cada vez mais roxos, não paravam de aplaudir.
Havia um tipo careca, escrevedor de versos, antigo professor e político, um sacripanta de primeira linha, que invocava Deus a toda a hora, e desdenhava da beleza das mulheres despudoradamente, insultando-as. Pois segundo ele; elas são a principal fonte e culpa do pecado, por serem belas e mulheres.
Deviam ser puras e castas, sujeitas ao crivo da sua hipocrisia, para poderem ser; seres de direito. Nuas; apenas aos seus olhos. Purificadas pela sua baba nojenta e pegajosa. Não sei o que se passa; mas o cão não pára de ladrar.
Vou tentar que sossegue, tenho aqui um poema bem duro, em forma de osso, vou dar-lho. Pode ser que ele se distraia, e deixe de dar conta das inteligências rudimentares que o rodeiam. Curiosamente o cão deixou de ladrar, certamente por preferir um poema duro, a uma proeminente matrafona da cultura, ou ainda a um careca sacripanta, que escreve versos e já foi político.

O meu cão nunca ladrou ao vento.

1 comentário:

Ana disse...

Prefiro um poema duro, como o cão.
Porque sou mulher, ser de direito, por direito próprio.
Em mim, manda a minha consciência.