25 setembro, 2008

O monopólio e o poeta adormecido

Há algo de inquietante que eu não consigo identificar e que me desconcentra. É como se eu vivesse de improvisos e desajustes. Um sonambulismo agudo e o futuro nunca mais amanhece. Ando a escrever os dias a lápis de bruma.
Diz-me tu, poeta adormecido; o porquê de tantas ruas desertas e dias tão cruéis? Tens razão. Tu não apostas na bolsa. Como haverias tu de saber. Se ao menos tivesses um poço de petróleo no teu quintal, podias jogar ao monopólio. Se as coisas dessem para o torto, o banco central injectava mais dinheiro e podias continuar a brincar.
Ardem em barris de petróleo os sonhos da grande massa humana. A fome dos mesmos de sempre, enche os odres dos especuladores impunes. Maldita cavalgada nevoenta que nunca mais tem fim. Caderno de raiva dor e morte, de páginas sempre a crescer.
Um dia os bancos e as bolsas habitarão todas as casas do planeta, e as pessoas habitarão a fome e as ruas. O universo da política e da finança, converteu-se ao exercício do assassinato e da ruína da vida das pessoas comuns. Cuja existência está transformada, num lento e doloroso roer do tempo. Até à agonia.
É este martelar constante nas bigornas da alma que não me deixa sossegar. Não me revejo na existência redonda de andarilho. Se me rasgam as veias bebo o sangue. Cerro a vontade e o pensamento, contra os fabricantes de imbecilidades e ásperos desdéns.

Todo o ser humano – o deve ser – quando mais cedo melhor.

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