Tenho fome
Tenho fome. Ponho a mesa para escrever. Abençoada escrita, pão feito de espectros amassados. Tem temperos de silêncios, meditações e recantos de solidão. É a vida em permanente combustão servida à mesa. A alma em prece e coração pendular.
Há silêncios a separar-me do mundo e gritos que dele me aproximam. Apetece-me colocar um lenço de névoa a vendar os olhos. Tantas são as vezes que perco os olhos ao vento.
Por aqui impõe-se a angústia do tédio organizado. Ouvi barulho lá fora, pareciam-me crianças. Fui ver; eram cães. A vida com os reservatórios vazios. O cheiro a fénico indica que a pureza foi desinfectada.
Muitas vezes mastigo croquetes de espanto, carregadinhos de gordura, a enjoar o futuro. É quando a vida vira verruga. Estranha coisa. Verruga. Os funerais são cerimónias organizadas para consolar os vivos. Não sinto qualquer desgosto se de mim discordarem.
O pior de tudo é quando vestimos a nossa mente de virgindade postiça. Um autêntico analfabetismo dos ardis da alma, e não há livros nem manuais que nos salvem. Uma vez cego; cego para a vida inteira. Mestre na geração de equívocos. Pobre homem. Estranha coisa.
Há uma corrente de pensamento que nos transforma em anões; curiosamente há quem goste. E não são tão poucos assim; são até muitos, mesmo muitos. Curiosamente.
Estão a ver? Lá estão eles a cochichar de novo, enquanto isso, tudo se escoa por entre os dedos. A vida no modo mais provisório que há. Assustadoramente infixável. O poder intimida os opositores, não há saber, mas há poder. Puxar pelos miolos é muito trabalhoso. É muito mais fácil intimidar. Reduzir o opositor a uma sombra, onde ele não caiba. Intimidar. Estranha coisa. Intimidar.
Hoje choveu a madrugada inteira, o dia amanheceu a sobrenadar noutra cor. O cão fartou-se de ladrar; tinha uma alma lá dentro. Do cão. Contristada a alma; e o cão também. A esperança devia tornar as pessoas mais jovens. Mas estão cada vez mais velhas. Deve ser mesmo falta de esperança. Das pessoas. Estranha coisa. Falta de esperança.
Que espírito de vagabundo o meu, sempre de um lado para o outro. A existir em permanente estado de protesto. Com a coçada mochila das palavras às costas. A escrita. Às vezes protesto comigo mesmo. E magico versos e frases para encurtar as viagens. Estranha coisa. Magicar. Que não arrefeça nunca, o sangue quente das palavras.
Há silêncios a separar-me do mundo e gritos que dele me aproximam. Apetece-me colocar um lenço de névoa a vendar os olhos. Tantas são as vezes que perco os olhos ao vento.
Por aqui impõe-se a angústia do tédio organizado. Ouvi barulho lá fora, pareciam-me crianças. Fui ver; eram cães. A vida com os reservatórios vazios. O cheiro a fénico indica que a pureza foi desinfectada.
Muitas vezes mastigo croquetes de espanto, carregadinhos de gordura, a enjoar o futuro. É quando a vida vira verruga. Estranha coisa. Verruga. Os funerais são cerimónias organizadas para consolar os vivos. Não sinto qualquer desgosto se de mim discordarem.
O pior de tudo é quando vestimos a nossa mente de virgindade postiça. Um autêntico analfabetismo dos ardis da alma, e não há livros nem manuais que nos salvem. Uma vez cego; cego para a vida inteira. Mestre na geração de equívocos. Pobre homem. Estranha coisa.
Há uma corrente de pensamento que nos transforma em anões; curiosamente há quem goste. E não são tão poucos assim; são até muitos, mesmo muitos. Curiosamente.
Estão a ver? Lá estão eles a cochichar de novo, enquanto isso, tudo se escoa por entre os dedos. A vida no modo mais provisório que há. Assustadoramente infixável. O poder intimida os opositores, não há saber, mas há poder. Puxar pelos miolos é muito trabalhoso. É muito mais fácil intimidar. Reduzir o opositor a uma sombra, onde ele não caiba. Intimidar. Estranha coisa. Intimidar.
Hoje choveu a madrugada inteira, o dia amanheceu a sobrenadar noutra cor. O cão fartou-se de ladrar; tinha uma alma lá dentro. Do cão. Contristada a alma; e o cão também. A esperança devia tornar as pessoas mais jovens. Mas estão cada vez mais velhas. Deve ser mesmo falta de esperança. Das pessoas. Estranha coisa. Falta de esperança.
Que espírito de vagabundo o meu, sempre de um lado para o outro. A existir em permanente estado de protesto. Com a coçada mochila das palavras às costas. A escrita. Às vezes protesto comigo mesmo. E magico versos e frases para encurtar as viagens. Estranha coisa. Magicar. Que não arrefeça nunca, o sangue quente das palavras.
A maior invenção da humanidade foi a escrita; a penicilina da vida.
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