18 janeiro, 2007

(fotografia chuvamiuda)
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carta a ninguém

aqui tens o meu passado, não sei porque o invoco, muito menos porque o escrevo, talvez um impulso súbito, talvez alguma loucura poética, embora não lhe tenha ainda verdadeiramente descoberto as raízes, as mesmo de verdade, sim, mas porque o haveria de fazer? tão pouco sinto vontade de o fazer. não me apetece enveredar por abismos abertos, por mais que o fogo na ponta dos dedos, me faça estalar as unhas já incandescentes, nada como mergulhar as mãos num balde gelo. a quem poderão interessar um chorrilho de lamentos, de ideias mal cozinhadas. de caminhos mal escolhidos, de trilhos quase imperceptíveis, tal foi a falta de vontade que os desenhou. nada que um caldo bem quente de auto-ironia não cure. nada que os que me apontam o dedo com discernimento lúcido desapaixonado, não tornem evidente. resta-me agora juntar todas as pedras que rolaram, colocar uma sobre a outra. quem sabe não acabo a reconstrução a tempo. a tempo de quê? a tempo para quê? perguntar-me-ás. não sei responder, também não o acho importante. o mais importante para mim, é conseguir uma reconstrução sólida. à prova de devaneios ilúcidos, de disparates avulsos, resistente a tempestades de asneiras. imune às gritarias histéricas sim não, sim não, sim não. porque não param com isso? afinal de contas cada um gosta de ser cada um. eu também!

até à volta do correio.

antónio paiva

13 comentários:

Ana disse...

Uma reconstrução sólida, à prova de devaneios ilúcidos?
A ti, lucidez, nunca te faltou, Amigo.
Reconstruir, sim, se houver melhorias a fazer. Mas as qualidades que te conhecemos já fazem de ti um grande ser humano.
Não derrubes o que há, digno de ser conservado.
Beijinho e noite serena.
P.S. Hoje uso palavras tuas.

lifeyes disse...

Abstenho-me que essa de "passado" e "recordar" não joga bem comigo.
Fico à espera da volta do correio :P

Kalinka disse...

Dei por mim a pensar que já ri com vontade, já nadei até perder o fôlego, já chorei até adormecer e acordei com o rosto cheio de marcas que tentei disfarçar; já falei sozinha com o espelho, que já quis ser médica, escritora, actriz ou pintora.
Dei por mim a pensar que já fui criança que joguei às escondidas, inventei amigos, já andei à chuva e senti-me livre. Já estive até altas horas da noite a fazer confissões aos meus amigos ou a ouvir as deles.
Dei por mim a pensar que já rimos e chorámos juntos… dei por mim a pensar que já confundi sentimentos e segui talvez pelo atalho mais complicado e nele caminhei pelo desconhecido…já chorei a ouvir músicas, já tentei esquecer pessoas mas conclui que essas são as mais difíceis de esquecer...

Bom fim de semana.
Beijo.

kurika disse...

Bom dia Amigo;

...desta forma tão sublime que juntas as letras...quaisquer comentários são insuficientes para te dizer que sou uma tua discipla incondicional...

..."imune às gritarias histéricas sim não, sim não"...poderia eu aproveitar para o tema actual que por terem opiniões desiguais, constitui o facto um acto de divergência entre os mesmos, e serve de pretexto para se ofenderem..., "afinal de contas cada um gosta de ser cada um"..., não é?

Um beijinho

Isabel Filipe disse...

".......
afinal de contas cada um gosta de ser cada um. eu também!
"

parabéns pelo texto
bom fim de semana
bj

Anónimo disse...

A alegria é um dom que se adquire a arte a tristeza que se transpira
em beleza...
Eu volto
Beijinhos
Belo
Conceição Bernardino

stela disse...

Parece-me que se impõe aqui aquela pergunta, que faço tantas vezes...: "Posso ser como sou?!" claro que podes... e deves! A mim pareces-me "lindo" e isso basta! :)
beijinhos

Anónimo disse...

cartas a ninguém que não queremos abrir...

sentimentos toldados pelo passar dos tempos...

palavras que nos deixam de igual forma indecisos...

não fales.não digas.não sintas.

às vezes sabe tão bem dizer NÃO!

beijo e abraço

... e fim de semana excelente

segurademim disse...

... mais eu!

SIM não me pressionem, não entrem na minha intimidade, não tentem derrubar as minhas pedras, elas não se deslocarão... apenas a erosão lhes dá alguma pequena, pequenissíma, alteração de forma, o edifício já foi construído SIM

não é abalado por ganâncias, desejo de dinheiro fácil ganho em cima das dificuldades dos outros, incompreensões



beijo :)

Anónimo disse...

Há pouco recebi uma carta similar...

Fica bem,
Miguel

Anónimo disse...

"Até à volta do correio" ... há tanto tempo que isso não entra no nosso dia-a-dia.

Bom fim de semana.

marinheiroaguadoce a navegar

david santos disse...

Olá!
Cada um é como cada qual...
Até à volta.

Um Poema disse...

"Carta a ninguém", que poderia ser a qualquer um, já que, cada um de nós, ao lê-la, terá achado ter a medida exacta para servir a alguém.
Um abraço